ANALFABETO SENTIMENTAL
ELE disse que não entendia as mulheres, que não fazia sentido a palavra AMOR.
ELA disse que não entendia os homens, e que eles eram todos iguais.
ELE disse também que lágrimas demonstram fraquezas; com olhar de deboche afirmou que “homem não chora”.
ELA disse que nunca se deve demonstrar gostar demais e nem dar certeza sobre os próprios sentimentos, porque homens adoram valorizar o que não têm.
ELE justificou as traições realizadas pelos homens, mas repugnou com tom de asco a infidelidade feminina, afinal homens têm direito à poligamia, enquanto mulheres devem ser virgens imaculadas.
ELA comentou que todos os homens, em essência, são infiéis e que, portanto, jamais merecem a confiança de uma mulher; disse ainda que quando a necessidade bater na porta, o amor vai saltar pela janela.
ELE afirmou que a obrigação do homem é tão somente não deixar faltar nada dentro de casa, que disciplinar os próprios ouvidos para ouvir a mulher tem a dizer ao final de um dia cansativo de trabalho, além de desnecessário, era impróprio.
ELA disse que se deve utilizar o sexo como ferramenta para conseguir o que se quer, e que tudo se simplifica em uma questão de conveniência e oportunidade, e não se atentou que estava se prostituindo para o próprio parceiro.
ELE disse que um homem jamais deve pedir perdão, olhar nos olhos e demonstrar arrependimento, pois se fizer isso, elas irão aproveitar a primeira oportunidade para lançar tais fraquezas em seu rosto.
ELA disse que é impossível ter um homem que seja bom amante, bom amigo e compreensivo ao mesmo tempo.
ELE disse que mulher não tem o direito de sentir prazer e nem gozar, que certas fantasias sexuais são inadequadas para serem realizadas com a própria companheira.
ELA sussurrou e disse que relacionamentos são 80% cama, e que se for bem “comida”, todo o resto era possível de aturar.
ELE afirmou que todos os seus amigos são gente fina, mas disse que as amigas dela só a levam para o mau caminho e introduzem “minhocas” em sua cabeça.
ELA disse que “perdoar, sim, mas esquecer, jamais”, e que acha justo de vez em quando “relembrar” as fraquezas e erros cometidos por ele.
Analfabetos sentimentais, criados em ilusões dos contos de fadas, onde os príncipes são verdadeiros gentleman, que não pisam na bola e são imunes ao veneno de um mundo sedutor. Princesas acordam sempre de bom humor, com cabelos penteados e maquiadas pra festa. Ainda acreditam que a maquiagem não irá borrar pelas lágrimas de uma briga conjugal ou nas crises do relacionamento. Nesse conto de fadas, as princesas não sofrem TPM nem são assediadas pelos colegas de trabalho; tampouco enfrentam os preconceitos de uma sociedade machista e dias de incompreensões simplesmente por serem mulheres.
Não compreenderam ainda que a relação do amor não é uma fórmula de bolo em que se acerta na primeira tentativa, e que provavelmente esse bolo em muitos momentos vai estar seco, duro, sem sabor, sem recheio, enjoativo e com uma aparência pouco agradável.
Certo é que esse “bê-á-bá” - em que ninguém já nasce sabendo - demanda mais paciência do que experiência, mais abraços apertados do que graúdos limites no cartão de crédito, mais ouvidos treinados do que uma boca afiada que declama em bonita oratória, mais humildade de espírito do que prodigiosas promessas inconsistentes, mais fé (em Deus, na vida e um no outro) do que propriamente o AMOR.
MOTIVAÇÃO por Lucas Tobias Advogado, consultor empresarial e escritor. contato@tobiasetobias.com.br