BRUMADINHO, ENCHENTES NO RIO E SÃO PAULO, CT DO FLAMENGO, BOECHAT. QUE LIÇÃO À VIDA QUER NOS ENSINAR?
Era uma sexta-feira à tarde (25/01), estava tomando café na Panini, quando ouvi os primeiros comentários sobre o rompimento da barragem em Brumadinho. Um senhor gordo e calvo, que usava uma camiseta escrita Route 66, disse em voz alta: “De novo”. De imediato entendi que sua voz trêmula de inconformismo estava fazendo alusão ao desastre de Mariana, ocorrido em Novembro de 2015, que implicou em um dos maiores desastres ambientais de nosso país. Vi há poucos dias no noticiário que 197 corpos foram identificados e 111 pessoas ainda continuam desaparecidas em Brumadinho.
Passados poucos dias (06/02), numa quarta-feira chuvosa, dentro de um taxi que me levaria até a portaria principal do Tribunal João Mendes, próximo a Praça da Sé, ouvi do taxista que o Rio estava sendo castigado pelas enchentes e que naquele dia já haviam sido confirmadas sete mortes vítimas de um desabamento.
Dois dias depois (08/02), acordei com a trágica notícia que 10 meninos - que como a maioria dos garotos sonhava em ser jogador de futebol - haviam perdido suas vidas em um incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo. Deixaram para trás não só o sonho de ser um astro do Barcelona, como também sonhos mais simples (mas não menos significativos) como o de darem uma vida melhor para os pais, ajudarem nos estudos dos irmãos mais novos, conhecerem a Disney e Paris, casarem e construírem uma linda família...
Mais três dias (11/02), almoçava risoto na minha mãe, quando o programa de esportes foi interrompido, noticiando que o jornalista Ricardo Boechat acabara de falecer em um acidente de helicóptero na pista do Rodoanel, em São Paulo, ao lado do piloto da aeronave, Ronaldo Quattrucci.
Exatamente um mês após a morte de Boechat outra tragédia. Novamente a Arca de Noé parece ter fechado suas portas antes da subida de todos os passageiros. Na primeira segunda-feira após o carnaval (11/03) a chuva fez mais treze vítimas fatais na Grande São Paulo após a ocorrência de fortes tempestades.
Nesses dias escuros de 2019, as desventuras foram trazidas na forma dos quatro elementos da natureza. A terra engoliu centenas de mineiros, a água afogou sete cariocas e outros treze paulistas, o fogo abrasou 10 jovens promessas no Ninho do Urubu. Pelo ar, Boechat voltava de uma palestra quando sofreu o acidente letal.
É bem verdade que já fomos atingidos por outras tragédias, como por exemplo, o pouso malsucedido do Airbus no voo JJ3054 da TAM no aeroporto de Congonhas, que matou 199 pessoas em 17 de julho de 2007 ou por que também não lembrar o incêndio na boate Kiss, em 27 de janeiro de 2013, que matou 242 pessoas e feriu 680 outras em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Evidente que tragédias não são infortúnios padecidos apenas em 2019. Talvez o ínfimo intervalo entre os desastres ocorridos nesse ano seja o que tenha mais chamado nossa atenção e trazido o tom estarrecedor e de incerteza para nós brasileiros. Mas afinal, qual lição à vida quer nos ensinar?
A VIDA QUER NOS ENSINAR COM AS RECENTES TRAGÉDIAS QUE SOMOS FRÁGEIS (e não fracos) e não dá para adiar nosso encontro com a felicidade, esperando que tudo esteja perfeito para agradecer a dádiva da vida.
Os cinco desditosos acontecimentos apresentam um ponto em comum: O IMPACTO DO INESPERADO. Vi em uma entrevista que no dia de sua morte Boechat estava com um pouco de pressa porque planejava almoçar em casa com a esposa e as filhas; Fernanda Damian, grávida de cinco meses, resolveu passar na companhia do marido alguns dias descansando na pousada localizada a menos de 500 metros da barragem de Brumadinho. O casal morava há quatro anos na Austrália e veio ao país para revelar à família o sexo do bebê, fazia dois anos que não visitavam o Brasil.
Nesse mundo em que somos atingidos todos os dias pelo inesperado, não dá para fazer um projeto de vida como se fossemos viver 150 anos (nova idade para aposentadoria no Brasil após concluída a reforma da Previdência!?) porque nossos projetos e planos de vida estão suscetíveis a alterações drásticas, sem qualquer aviso prévio ou pedido de desculpas.
Deliberamos que no futuro teremos a casa dos nossos sonhos; no futuro faremos aquela viagem sensacional que tanto planejamos; nosso ”Job” será com algo inovador e extremamente lucrativo; começaremos a praticar o exercício que o cardiologista tanto recomendou; cuidaremos de nossa saúde física, mental e espiritual com mais afinco. Daremos mais atenção aos nossos velhos pais e acompanharemos cada passo do crescimento de nossos filhos. Iremos jantar pelo menos uma vez por semana com nossas esposas e maridos, presenteando com flores e chocolates não apenas nas datas especiais.
Mas talvez a viagem para Noronha nunca seja realizada e que a gente prefira deixar o emprego que nos enriquece para trabalhar com algo que realmente nos traz satisfação. Uma terrível doença pode acometer nossos cônjuges e filhos, impedindo que aquele último “eu te amo” jamais possa ser declamado. Existe a possibilidade ainda que nossos planos sejam alterados pelas vitórias e derrotas vivenciadas durante a trajetória, que farão com que aqueles velhos planos - de repente - não façam mais o menor sentido. De qualquer forma é certo que em certo momento da vida o impacto do inesperado vai nos alcançar de alguma forma.
Não adie mais a felicidade. A felicidade está no hoje, está no agora! Carpe diem!
Lucas Tobias Advogado, consultor empresarial e escritor.
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