Agência Parceira: RGB Comunicação

O surgimento de doença renal crônica está aumentando nos últimos anos. E eu com isso?

Muita gente, se não a maioria das pessoas com quem converso, faz cara de paisagem quando pergunta: “Você é medica do quê?” e ouvem como resposta: “Sou nefrologista”. Alguns fazem cara de que entenderam (mas não entenderam realmente), outros confundem a minha especialidade médica com Neuro ou Urologia e outros, que sabem realmente o que a Nefrologia estuda, até se benzem dizendo: “É especialista em rins, né? Deus me livre de precisar de “você”!!

Sim a Nefrologia é ainda pouco conhecida da população geral, mas é a especialidade médica que diagnostica e trata as doenças renais. Alguns a confundem com a Neurologia, acredito que apenas pela semelhança na escrita do nome, e outros com a Urologia, que tem em comum com a Nefrologia, tratar de doenças do aparelho urinário, mas principalmente a parte cirúrgica desse tratamento. Cito como exemplo os pacientes que têm cálculo urinário, que às vezes precisam retirar cirurgicamente os cálculos com a Urologia, mas que fazem o diagnóstico da causa da doença, o tratamento clínico e prevenção de recorrência dos cálculos com a Nefrologia.

Tá, mas se a Nefrologia trata de doenças renais, não vou precisar dessa especialidade porque nunca tive dor nos rins, tomo muita água e estou urinando normalmente. Só não entendo porque existe tanta gente com problema nos rins atualmente. Perto da minha casa tem uma senhora que faz diálise. Disse que “perdeu os rins” por causa de diabetes. É comum isso?

Agora chegamos ao momento do “Deus me livre, não quero precisar de você”. As pessoas que conhecem a Nefrologia fazem associação direta da especialidade com o tratamento dialítico, que é o recurso terapêutico utilizado quando há Doença Renal Crônica Terminal, ou seja, houve perda lenta e progressiva da função dos rins e, quando estão funcionando apenas menos de 15% do que deveriam, necessita-se de uma máquina para substituir essa função. Realmente uma doença grave, um tratamento penoso, mas que mantém a vida das pessoas por muitos anos, apesar da terminalidade dos rins.

- Mas eu não quero ter uma doença dessa, prefiro morrer do que fazer diálise! É aí o “x” da questão. Para muita gente, já com doença avançada, a diálise, em suas duas modalidades, hemodiálise ou diálise peritoneal, é a única opção, enquanto se aguarda um transplante renal. E ainda bem que existem essas opções, porque para a insuficiência terminal de outros órgãos como coração, pulmão e fígado, só há um tratamento capaz de prolongar consideravelmente a vida dos pacientes, que é o transplante. Muitos não conseguem esperar por ele e morrem, sem que haja um tratamento de suporte como a diálise, para permitir que o paciente aguarde até o transplante. Por isso que a diálise não é o fim do mundo e sim a oportunidade de continuar vivendo, apesar de falência terminal de um órgão, com possibilidade de sair dali para um transplante, se houver indicação.

Não sei, não. Melhor não precisar dessa diálise!

Sim, melhor não precisar e para não precisar é necessário o diagnóstico precoce e tratamento eficiente das doenças que possam levar a doença renal terminal. É aí que entra a Nefrologia que trata não somente das pessoas em diálise e transplantados renais, mas também trata todas as doenças que possam evoluir para a doença renal terminal ou falência dos rins. E aí é que entra o desavisado que acha que nunca vai ter doença renal porque seus rins não doem, ou porque toma muita água ou porque urina muito bem. Tudo bem, mas as doenças que mais causam insuficiência renal são a Hipertensão Arterial Sistêmica, famosa “pressão alta” e o Diabetes Mellitus, que é o “açúcar no sangue”. Ambas são doenças que têm incidência elevada na população adulta brasileira, não fazem doer os rins, e, muita gente não sabe que após alguns anos de doença mal controlada, os rins podem ser prejudicados sem que haja “avisos” tipo dor no rim ou diminuição da urina.

Mas se não há avisos, como saber que estamos em risco de ter a doença renal terminal? Eu não posso mesmo ir parar numa diálise! Doenças como hipertensão e diabetes não dão sintomas quando estão afetando inicialmente os rins. O jeito de descobrir é com exames laboratoriais que o médico que acompanha o paciente deve pedir, ao menos anualmente, para verificar se há algum comprometimento renal. Se houver, ele poderá pedir uma avaliação para o nefrologista, que verá a gravidade e indicará o tratamento. Outras doenças comuns que podem evoluir com doença renal como calculose urinária, infecção urinária de repetição, aumento da próstata, aumento do ácido úrico, nefrites e malformações urinárias também podem evoluir com doença renal crônica e nelas, o nefrologista terá o papel principal no tratamento e prevenção da evolução desfavorável.

É impressão minha ou essa tal Doença Renal Crônica vem aumentando muito nos últimos tempos? Não, não é apenas uma impressão. É uma verdade. A doença renal crônica tem aumentado a sua incidência porque as doenças que mais a ocasionam também têm aumentado. A epidemia de obesidade, os maus hábitos alimentares, o stress, o sedentarismo faz com que cada vez tenhamos mais hipertensos, diabéticos e pacientes com cálculos. Por outro lado, o aumento da estimativa de vida, devido em parte a melhorias no tratamento das doenças crônicas também faz com que tenhamos muitos indivíduos mais idosos, com muitas doenças crônicas e usando muitos medicamentos, o que também contribui para o aumento da incidência e prevalência da Doença Renal Crônica.

Dra. Joana Carla da Silva Regueira Costa Nefrologia

(Doenças Renais e Hipertensão)

CRM 95.494