ROLETA RUSSA DA VIDA
Guinadas da vida. O tempo passou e tudo mudou, nada era como antes e nada será como o agora. Onde estarão alguns rostos conhecidos quando ocorrer a abertura da Copa da América do Norte de 2026? O que o tempo e a sorte reservarão a cada um após passadas tantas primaveras?
O tempo passou para aquela menina gordinha, de óculos fundo de garrafa, pele oleosa e aparelhos nos dentes, que sempre andava sozinha, tinha apenas amigos virtuais, amava ler romances estrangeiros e assistir a filmes de ficção, que todos juravam que ficaria pra titia; diziam que na vida dela nada daria certo, que sua história sempre seria um arco-íris monocromático formado por uma cinza semelhante a um dia nublado da cidade de São Paulo.
Que cinza que nada! Na vida dela tudo caminha “muito bem, obrigada!”, e sua história é formada pelas cores mais coloridas e radiantes que na natureza se pode encontrar. A roda gigante da vida sorriu pra ela e resolveu que ela seria um lindo mulherão. Hoje ela substituiu os óculos por lentes de contato, faz tratamento com dermatologista, malha todos os dias e se alimenta bem, veste-se com elegância e sem vulgaridade, e os aparelhos nos dentes deram resultado. Ela apresenta como principal cartão de visitas o seu lindo sorriso que dá inveja aos exibidos nos comerciais de creme dental e abre todas as portas que ela pretende passar.
O tempo passou para a jovenzinha sorridente que sonhava um dia ser advogada. Talvez o sofrimento da separação dos pais a levou à conclusão de que ela não era a pessoa mais certa para mediar o sofrimento alheio. Embora desde nova já soubesse que o fim da vida é também um exercício de separação - seja pela morte, pelo abandono, pela decepção de relacionamentos fracassados ou simplesmente através das escolhas que compõem o exercício do livre-arbítrio deixado por Deus - não imaginava que esse duro golpe mudaria todos os seus planos de vida. Perguntava-se qual seria sua reação quando outros pais sentassem em sua cadeira buscando a tão dolorosa solução jurídica. Sabia que outros filhos também passariam pela mesma dor que ela passou.
A intelectual de óculos de armação grossa fará faculdade e terá um caso com seu professor 15 anos mais velho, e será também o estopim do fim de um casamento de 30 anos, após a mulher do catedrático descobrir, em um único dia, infidelidade do marido e a gravidez da aluna.
A loirinha de camisa xadrez e fones de ouvido, vai se apaixonar por um cara que ela conheceu pela internet. Após passarem um final de semana no motel, vai fuçar no seu celular e descobrir que ele é casado e tem uma linda família.
Aquele jovem modelo vai assumir a homossexualidade para a família, e enfrentar o preconceito do pai militar e da mãe evangélica. Aquele vai virar vegano depois de realizar uma pesquisa na faculdade sobre processo de confinamento e abate de bovino. É terrível, mas aquela vai assistir, sem poder fazer nada, a seu filho morrer em uma batida de veículos. A magrinha de cabelos lisos vai casar e morar longe dos pais e só então descobrir o quanto eles eram importantes. Após uma década, aquele outro descobrirá sua homossexualidade, (curioso, logo ele que é um Don Juan). Aquele concurseiro que quer ser Juiz Federal acabará viciado em Ritalina. Aquela de vestido florido se apaixonará pelo colega de trabalho, e quando menos perceber, vai acordar um dia em um quarto barato de motel à beira da estrada.
O jovem de calça capri vai abandonar direito no quarto ano por falta de grana. A garota de verde, que adora animais, vai cursar veterinária e abrir um pet shop. Aquela ali que cursava teatro após o colégio vai usar seu talento da maneira errada e se transformar em uma exímia estelionatária, especialista no golpe do bilhete premiado.
Quantos destes vão se casar e sobreviver à tentação do divórcio? Quantos realmente deixarão saudades após falecer? Quantos conseguirão explorar seus verdadeiros talentos e fazer realmente aquilo que gostam? Quantos destes amarão o próximo como a si mesmos e a Deus sobre todas as coisas? Quantos, antes de partir, terão encontrado a verdadeira felicidade? Quantos farão verdadeiras amizades?
Amizades? Vixe, agora tem até carrinho elétrico pra levar o caixão. Nem precisamos mais de 6 amigos no final do expediente...
MOTIVAÇÃO por Lucas Tobias Advogado, consultor empresarial e escritor. contato@tobiasetobias.com.br